quarta-feira, 1 de maio de 2024

feixe de luz

que coisa é essa que distingue o ângulo preciso desenhado pela mesa de mármore da cozinha, o feixe geométrico de luz que, projectado do parapeito da janela com o canteiro de sardinheiras, atravessa o mármore vergado de veias rosa, como vasos sanguíneos da memória, escritos na pedra, e se prolonga até ao chão, reflectindo-se em múltiplas dimensões, vindo desse passado tão próximo como longínquo, atravessando o presente e prolongando-se naturalmente para fora do tempo. que coisa é essa que distingue esta memória do preciso reflexo, do primeiro reflexo, de todos os reflexos juntos, do feixe de luz do parapeito da janela com o canteiro de sardinheiras que atravessou o mármore da mesa da cozinha, na casa da minha avó. os meus cotovelos pousados em cima da mesa. e o frio daquele mármore e o calor do feixe de luz, colados à minha pele. esta pele, agora.

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