domingo, 18 de dezembro de 2022

entrelinhas

No meu sonho havia a ideia de alguém de nos definirmos como "pequenas máquinas. Tentei perceber melhor e lembrei-me que não era um sonho mas a mistura de duas ideias. Pequeno esclarecimento, ideia é para mim essa imagem, essa intuição que procura a sua parte concreta, nas coisas.Por um lado a tal imagem tinha a ver com uma expressão que usa Gilles Deleuze para falar da potência em Espinosa, o filósofo da potência, que é algo como sermos "pequenas caixas de poder". Caixinhas de poder,com esse lado misterioso e surpreendente, como quando oferecemos uma prenda a alguém que está ainda fechada e pode ser muita coisa.O seu valor, enquanto caixinha, prenda fechada, é indeterminado, e esse é o valor mais importante de qualquer prenda: o de não sabermos o que pode aquela prenda.Que relação existirá com as"pequenas máquinas de poder"? Não procuro a definição,interessa-me mais as maneiras como se pensou nisso, os pedaços que criaram essa amálgama, como se fosse uma ideia clara e distinta, que não é de todo, e são essas misturas que a fazem não o ser que originam pensamentos nas entrelinhas que se trata de recuperar, esses pedaços de vida, sensações, pequenas percepções, caídas por aí ao desbarato. A imagem das "pequenas máquinas" de poder tem a ver com uma aplicação que descobri ontem: colocamos os dedos no ecrã do smartphone e avaliam não só a nossa frequência cardíaca, mas o nível de depressão e o nível de outras emoções que agora não lembro. Uma aplicação que avalia numericamente emoções! Virei a atenção para outras coisas mas esta ficou lá, mal resolvida e ainda bem, a misturar-se com os outros pensamentos soltos. Estas pequenas "máquinas de poder" que a aplicação procura definir e determinar, medindo níveis emocionais, são o diametralmente oposto das "pequenas caixas de poder", no sentido que Deleuze retira da leitura de Espinosa, que podem surpreender e esperar um outro mundo.