sábado, 25 de março de 2017

tão simples - ao mesmo tempo monstruosos - os pequenos nadas que se iam assim revelando, soltos, entre assuntos dispersos. ganhavam corpo, um corpo mitológico. várias eram as vezes em que certa palavra, ao procurar libertar-se, era sufocada, mesmo antes de se revelar matéria, corpo, afecto. ou correria como um cavalo frágil, muito aquém das suas forças. as melhores e também as mais melancólicas conversas eram por telefone: em lugar nenhum, nem próximo nem distante - estranho - fora do que era costume chamar-se espaço ou tempo. diziam-se coisas por dizer, ansiando sobretudo pelos vazios entre as palavras, para poder ouvir, do outro lado, essa espécie de íntima ventania contra o microfone, a da respiração.