sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

enroscar-se

enroscar-se a valer numa possibilidade remota de ser, enroscar-se tanto tanto que a possibilidade se vira do avesso, mostra as entranhas num doce desventrar-se e nada pede senão respirar e respira tão inteiramente que parece explodir e deseja o vazio do outro lado, só mais uma vez

domingo, 25 de dezembro de 2016

cena

cena, chamou-lhe Virginia Woolf, visão, segundo Thomas Hardy, o correlativo objectivo de uma emoção, disse TS Eliot... uma situação, acontecimento ou série de acontecimentos que servirá de fórmula a uma emoção específica... “vêmo-la, como se tivesse existido sempre (...) vívida (...) não só para o olho, pois todos os sentidos participam”. sentidos de quem? um impessoal, “um pequeno borrão de inconsciência”...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Arte e Natureza





Natureza! Estamos rodeados por ela e entrelaçados nela - somos incapazes de escapar dela e incapazes de penetrá-la profundamente. Sem ser convidada e sem ser prevenida, atrai-nos para o vórtice da sua dança e afasta-nos, até que estejamos exaustos e caiamos em seus braços. Cria eternamente novas formas; aquilo que existe nunca existiu antes; aquilo que nunca existiu volta a existir - tudo é novo e, contudo, para sempre antigo. Vivemos no meio dela, mas somos estrangeiros para ela. Ela fala continuamente conosco, mas não nos confia os seus segredos. Agimos constantemente nela, mas não temos sobre ela nenhuma força. Parece ter apostado tudo na individualidade, mas não sabe o que fazer com os indivíduos. Constrói e destrói continuamente, sendo a sua forja inacessível. Vive através dos seus filhos; mas onde está a mãe? É a única verdadeira artista: cria os maiores contrastes a partir do material mais simples; a maior perfeição sem ponta de esforço; a determinação mais precisa, sempre coberta de algo suave. Cada uma das suas obras tem a sua própria essência, cada uma das suas aparições a caracterização mais singular, mas faz de tudo uma unidade.


Die Natur: Fragment” (“Nature: A Fragment”). In: Johann Wolfgang Goethe, "Schriften zur Naturwissenschaft: Auswahl", Edited by Michael Böhler, Tiefurter Journal, Stuttgart: Philipp Reclam, (1783)1977,  pp. 28-31. Excerto traduzido por mim a partir desta tradução inglesa de Alan N. Shapiro. Tradução inglesa da totalidade do fragmento, aqui. 


Se a arte conseguir, através da imitação da Natureza, através do esforço de constituição de uma linguagem universal, através do estudo exacto e aprofundado dos objectos, chegar finalmente mesmo a conhecer com exactidão e cada vez com maior exactidão as propriedades das coisas e o seu modo de existir, se conseguir uma visão sinóptica da série das figuras e uma justaposição e imitação das suas diferentes formas características, então gera-se o Estilo, o grau supremo a que ela pode chegar; o grau em que se pode equiparar às tarefas humanas mais elevadas.

Do mesmo modo que a simples Imitação assenta sobre uma existência tranquila e uma presença benevolente, e a Maneira capta uma manifestação com um ânimo talentoso e ágil, o Estilo assenta sobre os alicerces mais profundos do conhecimento, sobre a essência das coisas, tanto quanto nos seja permitido conhecê-la em figuras visíveis e tangíveis.

"Einfache Nachahmung der Natur, Manier, Stil" Teutscher Merkur, 1789 (HA 12, pp 30-34), In: Johann Wolfgang Goethe, A Metamorfose das Plantas, Tradução, Introdução, Notas e Apêndices de Maria Filomena Molder, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1993, p 63