sábado, 16 de janeiro de 2016

a fenda, a estrada. Kiarostami.






 




1&2 Onde fica a casa do meu amigo? (Khane-ye doust kodjast) ABBAS KIAROSTAMI 1987
3      O vento levar-nos-à ( Bad ma ra Khahad bord)  ABBAS KIAROSTAMI 1999





a c o n t e c i m e n t o s


Um acontecimento tem sempre uma parte que ainda não aconteceu e uma parte que aconteceu plenamente. Mas quando se esgota o acontecimento já não há acontecimento. Parece ser um mas não é, é sempre outro e ainda outro e outro. É sempre uma espécie de manada deles, sem número definido. Como se define o número de uma manada? Define-se pela sua expressão vital. A vida define. Acontecimento é uma palavrinha que tem um sentido para toda a gente, mas não é o mesmo sentido. A maneira como esta palavra me aparece, o som, a expressão, engloba tudo isso que sempre escapou e sempre terá de escapar às designações e classificações de signos da Semiótica ou da Linguística. O acontecimento não existe sem um excesso em relação a ele, mas é algo de extremamente singular, quer dizer, não se confunde com o resto, sobressai sempre, ainda que muitas vezes passe despercebido. A c o n t e c e r, todos sabemos, é a coisa mais simples, mais subtil, mais natural, mais fugaz, mais deliciosa, do mundo, mas é também a mais difícil, mais óbvia, mais estranha, mais lenta, mais dolorosa do mundo. Em todo o caso, acontecer só acontece quando necessário. Sabemos quando acontece, mas não sabemos o quê. Sentimos que é um não sei quê, um quase nada ou um quase tudo. Uma espécie de charme que nos envolve um pouco ou totalmente, como um odor, um sabor, uma cor, uma paixão. Sabemos nada, quase nada sobre isto. Não há nada a saber. A c o n t e c e r acontece fora, não longe, mas absolutamente fora e absolutamente dentro, tão dentro, nas entranhas, que é absolutamente fora de tão absolutamente dentro.