domingo, 12 de maio de 2024

caixinhas mágicas

A minha avó Eunice tinha um fio de prata, com um pêndulo que era uma moldura fechada muito bonita. Lá dentro estava um minúsculo retrato oval do rosto do meu avô Manuel e quando a minha avó usava este fio, a fotografia do meu avô ficava mesmo perto do seu coração. Quando, pequena, eu abria a portinha da moldura para dizer olá ao meu avô e estar um pouco com ele, como o meu contacto com o corpo da minha avó era muito próximo, tinha a sensação de uma presença, que a minha avó lhe emprestava e que fez com que a minha relação com ele, de alguma maneira, se tenha ligado à vívida presença de um corpo (o da minha avó), apesar de nunca o ter conhecido em vida.

[texto perdido e achado, escrito em 21 de dezembro de 2021]


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