sexta-feira, 10 de novembro de 2023

dos nomes e da guerra

Walter Benjamin disse-nos que se deve claramente distinguir o limiar da fronteira. Estamos a testemunhar, em massa, uma guerra onde se confundem fronteiras e limiares, onde as vidas daqueles que foram esperados em terra, mesmo se numa terra imaginária, não são vistas pelo mundo poderoso do progresso como vidas. Vidas sem nome em terras imaginárias. Quando uma mãe escreve os nomes dos filhos que a qualquer momento poderão estar mortos no seu corpo quente e vivo, quando as crianças, absolutamente expostas à barbárie, fazem pulseiras com os seus nomes, estes gestos são a preparação de um rito que dá conta da experiência da passagem da vida à morte, mas também da morte à vida. Aquele a quem foi dado um nome foi esperado em terra. Dar um nome é quando se nasce um gesto de esperança, quando se morre o nome guarda os traços dessa vida vivida e que se esperou ser vivida. Se dizer os nomes daqueles que morreram é sempre um modo de lidar com o o sagrado e o profano da morte, marcar os corpos daqueles que ainda estão vivos com o nome é o gesto de quem, ainda que tenha os olhos virados apenas para o passado, procura resgatar, nos escombros, a experiência do limiar, o direito de existir.

Sem comentários:

Enviar um comentário