sexta-feira, 10 de março de 2023

perder o pé, a alma adora nadar

Andar pela areia molhada, os pés a enterrar, quando enterram demasiado a sensação deixa de ser de conforto e assusta um pouco, como se a terra dissesse baixinho, um dia engulo-te. Rebentação. Massagens agradáveis com força moderada das ondas a rebentar contra o corpo. Avanço, quero tirar os pés da areia e mergulhar, no momento da crista da onda, que é como gosto, imediatamente antes da onda começar a rebentar. Mergulho em direcção ao fundo e saio do outro lado da onda. Repito vários mergulhos à medida que as ondas avançam. Sinto o nariz a arder. O gosto a sal na boca. Vou avançando até perder o pé. Já o perdi. Pequena sensação de euforia. Passamos a outra fase. Adeus terra, agora sou eu e a água, como no útero, outra vez, ou como num daqueles rios do submundo das antigas histórias gregas, o letes ou o estige, esquecimento ou invulnerabilidade absoluta. "A alma adora nadar", palavras de Michaux. Perder o controlo do corpo. É a alma que nada. O horizonte é estupendo.

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