Não é que não tenha sido sempre um pouco friorenta, mas agora preciso de me adaptar à temperatura da água tão devagar que toda a experiência de entrar no mar é uma experiência quase nova. Primeiro os pés, um arrepio que atravessa o corpo como um vento, ficar ali a sentir as correntes mais quentes e as mais frias, os seus cruzamentos, observar as tonalidades de verdes, azuis, areias, as texturas, das pedras, da pele. Irei a nado até à corda que delimita a zona de banhos. Aproxima-se de mim um peixe comprido. Dirijo-me para ele, um passo para a frente e dois para trás, gostava de lhe tocar. Ele foge, rodopia, mas volta a mim. Ficamos neste jogo durante vários minutos. Apetece-me tê-lo mais perto, mergulhar, vê-lo melhor. Começo a pensar no seu sabor de peixe, a imaginá-lo num prato, sei mais sobre ele do que ele sobre mim. A um nível íntimo, talvez, o da sua carne. É injusto, parece-me, isto de eu saber algo mais sobre o seu interior. Imagino-o sentado numa cadeira, vestido, de garfo e faca na mão, com um corpo humano no prato, talvez o meu. Vêm mais dois peixes aparentemente simpáticos, como aquele, mas mais pequenos. Mergulho, tento vê-los melhor, mas o mar turva-me a vista - não é o meu meio - e a imagem do peixe sentado à frente do prato permanece.
Sem comentários:
Enviar um comentário