segunda-feira, 4 de julho de 2016

Palavras de María Zambrano. Para Kiarostami.


E tudo o que rodeia o homem e ele próprio é arcano. O homem é a criatura à qual a realidade se dá como inacessível. Mas sentiu sempre a necessidade inaludível de clarificá-lo, de abrir caminho, de chegar a ele, de que lhe seja manifesto (...) Quando os deuses aparecem, é a sua forma que surge; ela é a novidade. Mas a forma não é só beleza, mas também capacidade de função. O que fica assegurado e libertado na forma é a função divina; o que encontra nela a sua garantia. Ao conceder-lhes forma, o poeta colaborou com os próprios deuses, como colabora todo aquele que serve uma revelação. (...) Cada deus abre um caminho no arcano inicial, no "pleno" que é, originalmente, a realidade que rodeia o homem. Não é o vazio a povoar-se de deuses, mas ao contrário: é o pleno da plenitude arcana, sagrada, aquele que se abre, se torna acessível através dos deuses (...) Transitar é, precisamente, viver, poder e ter para onde ir.



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