Uma vez perguntaram-me qual era o significado desta cena, a cena final
do filme Blow-up, de Antonioni. Eu não tive, como é óbvio, resposta,
como não terei para pergunta semelhante sobre nenhuma cena de nenhum
filme. Achei ainda assim que é uma muito boa cena para falar sobre esta
coisa das perguntas sobre os significados das coisas. É muito
interessante tentar perceber, antes de qualquer debate semiológico,
porque é que se anda sempre à procura da metáfora ou do que significa,
do que quer dizer isto e aquilo. O que se terá passado para que se faça
sentir na nossa cultura artística esta pulsão para "o que quer dizer"
ou então, as avessas disto, "a arte que não quer dizer nada" porque é o
contrário da arte que quer dizer qualquer coisa. Talvez fosse
interessante, antes de mais nada, ver melhor a pergunta. É um lugar
comum. Talvez, muitas vezes, quando se pergunta "o que quer dizer" não
se esteja imediatamente a determinar esse dado como uma metáfora ou como
um significado preciso. Na sua forma comum esta questão é banal e até
pode ser interessante, porque a ambiguidade da linguagem o permite. O
problema é quando ela se torna uma questão académica, institucional, onde "o que quer
dizer" e o "que não quer dizer nada" assumiram proporções monstruosas. O
curioso é que a questão "o que quer dizer" afasta-nos sempre do que se
está a dizer, seja uma frase ou uma imagem, do que está a acontecer.
Neste caso diz-se por gestos, movimentos de câmara, dos corpos e dos olhares. Os mimos talvez reflictam esse desejo de ver o que não está lá. Talvez. Mas isso não está nas imagens de forma absoluta. Os gestos são o que são. Não querem dizer. Podem ser mais do que são. Neste caso, nesta
cena, cria-se um espaço e um corpo completamente diferente, que envolve
uma maneira de ver diferente do ver que estava implicado no olhar deste
fotógrafo. E que tem a ver com um gesto ao qual se retirou o significado como centro: a bola. Talvez isto queira dizer qualquer coisa, talvez não.
Perguntar "o que quer dizer" é sempre um movimento que se afastou do
problema que é dado no real, é sempre uma espécie de ansiedade infantil pela resposta. Mas as
crianças não perguntam tanto "o que quer dizer" como nós adultos e não perguntam
apenas "o que quer dizer". Elas perguntam "e depois, o que se passou a
seguir?", elas respondem, "não, não, não é isso", elas dizem o que está
nas imagens em vez de verem o que está n"o que quer dizer".
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