Depois de uma pequena caminhada pela floresta, ainda com uma frase na cabeça, de uma conversa telefónica: 'mas e o que se faz enquanto se espera?' escrevo este pequenino texto, feito como notas que se escrevem, como dizia uma escritora no seu diário, para evitar que os momentos de uma vida se desperdicem, como quando se deixa uma torneira aberta. Pensei que poderia chamar-se "olhar para cima", provavelmente porque enquanto falava ao telefone, a caminhar, ao surgir no meio da conversa essa frase sobre a espera, me encostei a uma árvore e olhei para o céu. Não foi junto a uma árvore que os dois sujeitos rocambolescos daquela peça esperaram por aqueloutro senhor que nunca mais chegava, sem saber quais os contornos dessa espera? Talvez enquanto esperamos pudéssemos olhar para cima, devo ter pensado, para o céu azul ou para as nuvens. Ouvi outra escritora dizer que gostamos de olhar para as nuvens porque elas nos fazem pôr o coração ao alto, nos fazem olhar para cima, e que os cientistas cognitivistas dizem que colocamos sempre os deuses num lugar ao alto, seja no céu ou num monte grego, porque olhar para cima causa uma subida de dopamina no cérebro. Eles lá sabem. Mas sabemos também nós como as nuvens inventam a nossa livre imaginação, quando nos deitamos na areia quente da praia num dia de verão a olhar para as suas formas moventes no céu e imaginamos todo o tipo de animais fabulosos e pequenas histórias. Cheguei a casa, abri o computador, deitei fora um pequenino papel que tinha passado as últimas horas a esfarelar dentro do bolso do impermeável, como quem deita fora o último vestígio de alguma coisa que se quer esquecer e sentei-me para escrever: olhar para cima.
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