segunda-feira, 30 de março de 2015

Axolotl






" Nas águas doces do México vive uma espécie de salamandra albina que há muito tempo atraiu  as atenções dos zoólogos e dos estudiosos da evolução animal. Quem tenha tido a oportunidade de observar um espécimen em aquário fica surpreendido com o aspecto infantil, quase fetal, deste anfíbio: a cabeça relativamente grande e enterrada no corpo, a pele opalescente, com uma leve mancha de cinzento no focinho e azulada e rosada nas excrescências febris à volta das guelras, as delicadas patas com dedos em forma de flor-de-lis.
A princípio o axolotl foi classificado como uma espécie própria, com a particularidade de manter durante toda a vida características tipicamente larvares para um anfíbio, tais como a respiração branquial e a permanência exclusiva na água. Tinha, aliás, sido provado sem discussão possível que se tratava  de uma espécie autónoma, pelo facto de o axolotl apesar do seu aspecto infantil, ser perfeitamente capaz de se reproduzir.  Só mais tarde uma série de experiências permitiu por em evidência que, depois de receber hormonas tiroideias, o pequeno tritão passava pela metamorfose habitual dos anfíbios: perdia as brânquias e, desenvolvendo a respiração pulmonar, abandonava a vida aquática para se transformar num exemplar adulto de salamandra mosqueada (Amblistoma Tygrinum). Esta circunstância pode levar a classificar o axolotl como um caso de regressão evolutiva, uma espécie de derrota na luta pela vida, que obriga um batráquio a renunciar à parte terrestre da sua existência e a prolongar indefinidamente a sua vida larvar. Mas desde há algum tempo este infantilismo obstinado (pedomorfose ou neoténia) forneceu as chaves para entender de modo novo a evolução humana."...

 Giorgio Agamben, Ideia da Prosa

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